5 de abril de 2011

A retórica do hipócrita - por Douglas Nascimento.

Farei uma homenagem ao Douglas Nascimento com o intuito de deixar eternizado o Complexo Alpha que teve seu fim anunciado. Já tinha esse texto pronto aqui para uma colaboração entre os blogs que não foi para frente, então o aproveitarei em forma de homenagem, até porque acho esse texto uma maravilha. A homenagem será feita através desse texto do Complexo Alpha que importo para cá. Vamos a ele.
                               
                              "A retórica do hipócrita

O discurso é muito bonito e é sempre a mesma coisa, chega a ser uma injeção com fortíssimas doses de esperança ouvir tantas palavras progressistas, seja da boca de quem for. Até mesmo da minha - não sejamos hipócritas já no início do texto, a deixemos para o final.
E o tal discurso então questionado, acaba se tornando retórica. Mas na primeira oportunidade que um determinado indivíduo tem, ele corrompe cretinamente seus princípios. E é realmente bonito ouvir tantas blasfêmias, muito bonito mesmo. Mas acontece que, empurrar conceitos com a barriga dessa forma não perdurará para sempre, e a paciência não será uma virtude eterna.
Comum ouvir tantos brasileiros reclamando de seus políticos, os cariocas aborrecidos com sua polícia, os negros pedindo o fim do preconceito e os asiáticos inconformados com seu pequeno membro. Daí que, esses mesmos injustiçados sedentos por legalidade, donos de belos textos anti-crime como este são também os primeiros a cometerem pequenos delitos. Quem reclama de tais, um dia ou outro acaba avançando um sinal e oferecendo o 'dinheiro do café' para o guarda; acaba um dia ou outro se revoltando com os altos preços da SKY e colocando uma cable-tv à gato em casa; acaba um dia ou outro comprando um filme pirata, não devolvendo o troco errado ao senhor da venda ou até mesmo colando na escola, o que seria por lei - acredite ou não - violação dos direitos à propriedade intelectual.
O que separa um crime banal como o exemplo de roubar o troco do senhor da venda de um desvio de verbas em Brasília é uma escala. A diferença é apenas de escala. Pois o crime, pequeno ou grande, continua sendo crime. Pois, nessa mesma linha de raciocínio, o que separa um cara que por 1 real engana o vendedor de salgados de outro que rouba 30.000 de cofres públicos? A resposta é a falta de oportunidade que um deles tem para roubar tanto dinheiro.
Exageros - também em escala - ou não, generalizando, somos todos uns vermes transvestidos em gente. Ora engomados num terno, ora desleixados numa roupa casual. Não importa o traje, a máscara nunca cairá mesmo. Esse é o mundo em que o fingimento de bondade de idéias e opiniões apreciáveis se tornou uma arte. E quando se é criado em meio a essa falsidade ideológica, é difícil ter esperanças a longo prazo. Elas talvez sejam preenchidas pelas injeções que citei no primeiro parágrafo, mas não passam de meras injeções mesmo, com seu efeito superficial e imediato.
E são por esses motivos que escrevi isso, para que pelo menos por enquanto, eu não tenha que assumir que hoje não paguei o salgado que comi no quiosque do Tadeu."

3 comentários:

  1. Texto bastante inteligente. Parabéns!


    http://villacosmetica.blogspot.com

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  2. Concordo como comentário acima ,muito inteligente.
    e é incrível que isso esteja tão presente nos nossos dias.Hoje pro brasileiro o esperto é aquele que faz o fim justificar os meios.
    Eu queria fazer uma recomendação a você,um texto da elisa lucinda chamado "só de sacanagem",tem tudo a ver com o seu texto .O link éesse http://deaviking.multiply.com/journal/item/51

    Muito bom o blog ,visionário!!!

    http://algopoetico.blogspot.com/
    ficarei feliz com sua visita
    =)

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  3. Só lembrando de uma coisa: os créditos para esse texto não são meus. Os créditos são dono do Complexo Alpha, D. Nascimento, que anunciou o fim do seu blog. E fiz essa homenagem como dita antes do texto real.

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